De acordo com o site de sua marca, o trabalho de Carlos Saade, 46, é vestir mitos. Suas roupas podem até não estar nas passarelas ou em grandes revistas de moda, mas enchem os guarda-roupas de emissoras de TV, vestindo apresentadores e personagens de novela, e os palcos de centenas de duplas sertanejas do país -"quem, de fato, dita a moda que se usa nas ruas", diz o estilista.
Sua loja, aberta há 11 anos nos Jardins, zona oeste, divide calçada com grifes de luxo, como Camargo Alfaiataria e Browns. É lá que ele recebe os "novos amigos" -como Luan Santana, Bruno e Marrone- e os de "longa data", entre eles Zezé di Camargo e Luciano, integrantes do Roupa Nova e o "padrinho" Cauby Peixoto.
| Produção Simone Pokropp / Foto Rogério Canella/Folhapress / Modelo Murilo Calori/Way Model / Agradecimentos Hobi Club (roupas e acessórios) e CNS (sapatos) |
Todos em busca de uma peça da Hobi Club.Fundada há 20 anos, no Rio, a marca tem como público a "verdadeira música popular brasileira", como classifica Carlos, que vive em São Paulo desde a abertura da loja por aqui. Na capital fluminense, veste sambistas; já na cearense, cantores de axé. Na paulista, a etiqueta caiu no gosto dos sertanejos.
"A elite da MPB e os roqueiros tacham [o sertanejo] de música caipira, vinculam-na aos rodeios. Mas, se olharmos de perto, é um estilo que, hoje, flerta muito mais com o romântico clássico do que com a vida na fazenda. E isso influi na forma como essas pessoas se vestem", diz.
Com a chegada do chamado sertanejo universitário, alavancado por nomes como Luan Santana e Michel Teló, o estilista diz que os modelos ficaram mais limpos, com menos informação.
Ou seja, brilhos, bordados e aplicações, que antes identificavam o estilo, agora dão espaço a jeans mais justos, alfaiataria reta e sobreposições de camisetas com colete e blazer de cor neutra.
"Ainda faço roupas com brilho e bordados, mas para nomes mais antigos, como Sérgio Reis. Os novos estão mais preocupados com o caimento, usam menos cintos, chapéus e botas de couro exótico, por exemplo."
A maioria das peças -entre camisas, calças e acessórios- não custa mais de R$ 400. Mesmo "mais em conta" que outras grifes, diz Saade, o valor ajuda a engordar o faturamento. "Meus clientes fazem muitos shows e não repetem roupa de jeito nenhum. Então, acabam comprando vários itens e gastam
sem se preocupar com a conta."
O preconceito do mundo da moda em investir no segmento e a pouca oferta de serviços personalizados para o público também fizeram o negócio despontar, conta ele, que diz não enfrentar concorrência. "Existem lojas para sertanejos com estilo tradicional demais. Não gosto de todas aquelas fivelas."
Exemplo desse estilo tradicional é a Villa Country Store, anexa à casa de shows de mesmo nome, na zona oeste, que vende bota de couro até de elefante e tubarão. Ali perto, há outros pontos famosos entre sertanejos, como as lojas Bovitik e Cowboys.
POR PEDRO DINIZ

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